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quarta-feira, 4 de julho de 2012

MALTHUS: IDEIAS PRECONCEITUOSAS?


POR ARI DO REGO DOS SANTOS (ARI DURREGO), graduado em Geografia, especializando-se em Educação Ambiental e funcionário público municipal 

       
       Thomas Robert Malthus (1766 -1834), ou simplesmente Malthus, desenvolveu a “Teoria Populacional que foi publicada em 1798 na qual afirmava que a população cresceria em progressão geométrica enquanto que a oferta de alimentos cresceria em progressão aritmética. Esta teoria foi formulada no início da Revolução Industrial que primeiramente começou na Inglaterra (país de origem de Malthus) onde esse “movimento” revolucionário industrial acarretou o aumento da produção agrícola, garantindo alimentos à população crescente, melhora das condições de saúde e a gradual redução das doenças. E tudo isso contribuiu para o aumento da população que ampliou o número de consumidores, a disponibilidade de mão de obra, causando problemas. Várias pessoas desempregada, baixos salários, trabalho infantil, aumento da mortalidade infantil, enfim, foi uma verdadeira revolução social, política e econômica.
         Dentro de toda essa revolução, Malthus surge com seu pensamento na tentativa de explicar o que estava a se passar na Europa no final do século XVIII e início do século XIX.
      Ele colocava a miséria como sendo um fator positivo e necessário para o reequilíbrio do crescimento populacional e a produção de alimentos, porque em sua época, ou seja, no período que se chamou de Revolução Industrial, aconteceram fatos que o levaram a pensar dessa forma, pois houve um aumento na produção agrícola que junto à ampliação dos meios de subsistência, contribuiu para o crescimento populacional. Com o aumento dessa população, cresceu o número de pobres, por causa da ascensão da burguesia que se apropriou dos campos comuns (antes pertencentes aos camponeses) para explorá-los comercialmente, deixando a maior parte da população advinda do crescimento que ocorreu, excluída da apropriação das riquezas.
         Foi exatamente isso o que levou Malthus a afirmar que a população cresceria em progressão geométrica enquanto que a capacidade de produção de alimentos aumentaria em progressão aritmética e que a solução era o controle da natalidade nas camadas mais pobres da sociedade para impedir que a pobreza se multiplicasse. Porque é certo que a produção de alimentos aumentou, só que conduzida pela burguesia, alimentada pela ideologia capitalista e, que tinha como único objetivo vender os produtos provenientes desta produção para os detentores de capitais, visando o lucro, a acumulação de riquezas e assim alimentando somente os “donos” dos recursos financeiros, ao mesmo tempo em que a parcela empobrecida da população, sem dinheiro não conseguia muitas das vezes adquirir nem o necessário para a sua sobrevivência, permanecendo na miséria como se não houvesse meios para produzir alimentos suficientes à alimentação de toda população. E para ele, o mais importante era a análise dessa realidade, ele escrevia o momento.
         A não assistência do Estado aos pobres, defendida por ele, nos leva a fazer a seguinte reflexão: o aumento da exploração feudal (fato que ocorreu durante o período conhecido como feudalismo), acrescido de longos períodos de escassez em função das péssimas colheitas e da retração das áreas agricultáveis, trouxe consequências desastrosas, entre as quais a acentuada diminuição da população. Em fins do século XIV a população europeia estava bastante reduzida. Com o advento da Revolução Industrial, ocorreram várias mudanças na Europa. As poucas melhorias na vida da população, o aumento da capacidade da produção alimentícia, fez com que a população aumentasse e de forma bastante rápida. E isso foi o bastante para Malthus chegar a essa conclusão, de que a assistência do Estado aos pobres levá-los-ia a procriarem, pois o simples fato de ter surgido poucas melhorias que foram permitidas à população, fez esta crescer alarmantemente.
         Tudo ou quase tudo que Malthus escreveu em sua teoria fazia sentido para aquele momento (período de transformação social: revolução do modo de vida, apropriação dos recursos naturais, humanos e técnicos da época por uma minoria, crescimento do comércio, etc.), pelo fato de que naquela ocasião, a sociedade já consolidava uma divisão em duas classes: a burguesia capitalista “dona” dos recursos naturais e do capital e os camponeses (pobres), expulsos de suas terras contando apenas com sua força de trabalho. Mas, como eram muitos, não havia ocupações para todos, forçando assim a perpetuação da pobreza e a continuidade de um ciclo em que nasciam as crianças, aumentando o número de pessoas e, com os bens concentrados nas mãos de poucos, acabavam não participando da divisão das riquezas e, com isso vinha à contribuição de um aumento para a população empobrecida.
         A base fundamental para a realização e sustentação desse ciclo era o capitalismo que também já dava sinais de sua consolidação e, à vista disso, a certeza de que daí pra frente seria sempre assim; a organização do homem em grupos societários iria ser orientada pela relação direta entre as formas de apropriação da natureza e os processos sociais, que constitui uma das principais causas da distribuição desigual da riqueza na superfície da Terra.
         Malthus não se deixou levar pela a ilusão de que era possível mudar o modo capitalista de agir e muito menos de acabar com esse sistema, sabido que a sociedade já estava inserida no mesmo. Além disso, ele haveria de saber que era impossível acabar com as diferenças sociais, pelo fato de que com a ausência dos pobres, que eram os dependentes de empregos, não haveria mais ninguém para operar as máquinas, trabalhar no campo, gerar as riquezas para os ricos..., porque se a totalidade tivesse condições econômicas iguais e assim não precisando trabalhar, ocorreria o empobrecimento de todos por não haver mais a continuação da geração das riquezas.
         Diante das análises feitas até aqui, o que se pode concluir é que as pessoas que leem ou estudam a teoria de Malthus, acabam tendo uma visão preconceituosa de suas ideias. Talvez por terem uma concepção bastante errada com relação à produtividade ao acharem que com as inovações tecnológicas atuais é possível se produzir mais e, com isso, trazer mais alívio à vida em comum. Portanto, certamente pensam: se a produção aumenta, automaticamente aumenta o acesso da maioria aos produtos resultante dessa larga escala produtiva, visto que, quanto maior for à oferta menor serão os preços e, com o ócio da produção os empregados trabalham menos mantendo a mesma produção.
         Porém, o resultado dessa engrenagem é igual à maior produção. Produtos mais baratos e maior número de funcionários demitidos, crescendo o lucro dos empresários e mais uma vez contribuindo para o aumento e continuação da miséria.
         E aí? Essa é ou não é a mesma realidade que Malthus escreveu em sua teoria? Só que em uma época diferente?
         Quando a teoria malthusiana foi formulada não se previa, com precisão, a futura existência da tecnologia que existe hoje, mas já se conhecia as formas de atuação do sistema capitalista e, sabia-se que seu principal alimento era a divisão de função entre os mais fortes e os mais fracos, onde os primeiros eram responsáveis pela exploração dos segundos e que jamais iria haver uma relação de igualdade entre ambos.
         Logo, trilhando pelo caminho real dos fatos que ocorriam no período em que vivia, Malthus colocava a sociedade tal como era de fato e não como ela deveria ser de direito.
        
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REFERÊNCIAS
           
DAMIANI, Amélia Luisa. População e geografia. 9. ed.1ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2008. – (Caminhos da Geografia). p.11-16.
DELLAMONICA, Umberto. Idade Média e Contemporânea.1.ed.1ª impressão – São Paulo: Ática, 2005.
MARQUES, Adhemar. Pelos caminhos da História. 1. ed. Curitiba: Positivo,2005.             

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